7.5.12

Eis a que$tão


Nunca fui muito boa para lidar com dinheiro. Pronto, falei.
Desde pequena gostava de gastar logo todo o dinheiro que ganhasse. Lá em casa nunca ganhamos mesada, o que até acho interessante, (sempre achei estranho criança cheia de dinheiro na mão para gastar com bobagem), mas conseguia um dinheirinho lavando louça quando tinha feijoada na casa da minha avó (eram 11 tios, contando com meu pai, só para ter ideia da "gravidade" da louça) ou, mais tarde, passando a roupa da minha casa. Quando criança, gastava tudo em uma papelaria muito bonitinha do meu bairro em Volta Redonda, aonde ia com minha irmã. A gente chamava de "Armazém".  O Armazém era um verdadeiro ralo para nosso escasso dinheirinho infantil.



Nosso maior investimento eram as canetas Signo, que tinham uma cartela quase infinita de cores. Quem foi criança ou adolescente nos anos 90 certamente se lembra desse vício.

Mais tarde, com a função remunerada de passadeira da casa (que me ensinou a passar muito bem, modéstia à parte huhuhu), comecei a ter alguma noção de economia. Juntando o dinheirinho de cada semana, conseguia comprar roupas, sair à noite, ir ao cinema... no auge, consegui pagar meu primeiro par de lentes de grau, sonho de toda criança que odeia usar óculos.

Mas poucas vezes na vida consegui somar quantias relevantes, fazer poupança. Dinheiro sempre teve facilidade para sumir da minha mão (alô análise do discurso: como culpar o dinheiro).

Em 2010 resolvi sair da casa dos meus pais. Estava no meu primeiro emprego e ganhava pouco, mas não tinha gastos fixos, fora a mensalidade da academia. Atenção: se é o seu caso, esse é o melhor momento na vida para juntar dinheiro  seja para a mudança, seja para viagens, cursos ou qualquer outro plano mais caro.

Pois bem, fiz uma poupança reservando exatamente um terço do meu salário todo mês, por vários meses. O restante eu usava com transporte e cerveja lazer. Com essa poupança consegui financiar minha mudança (que teve várias fases, vários dias, passando por vários endereços), e, mais tarde, comprar meu computador. Depois dividi a casa por sete meses (seis meses com uma pessoa, um com outra).

Mas quando passei a morar realmente sozinha... xi...

Planilha

Quando comecei a me enrolar de verdade com as contas (eu sempre paguei contas em dia, mas a minha sofria), comecei a conversar com amigos sobre isso. Descobri que um deles faz um blog justamente voltado para a minha faixa etária, novos adultos, e para minha classe social: fo classe média baixa. O Leandro foi a segunda pessoa a me falar na planilha de gastos.

Sempre questionei os efeitos da planilha, especialmente quando JÁ se está no vermelho. Administrar uma conta saudável é simples, mas que diferença faria ter uma planilha com a conta negativa? Era o que eu pensava. O que eu não sabia é que a planilha de gastos tem um efeito que vai muito além do cálculo. A planilha é moralizadora. Isso significa que ela te julga. Sim, a sua planilha de gastos tem personalidade, e ela é . É importante que seja assim, porque só assim você irá titubear antes de fazer gastos fúteis.

Classificação

Para aumentar o poder moralizador da minha planilha de gastos, resolvi criar códigos para cada tipo de gasto. Assim, há os gastos que assinalo com "O", de obrigatórios. São as coisas que não posso evitar comprar. Isso inclui transporte, compras de supermercado, contas de telefone, luz, gás, aluguel e alguns remédios. O código "N", de necessário, serve para gastos que eu até poderia evitar, mas são muito importantes. Por exemplo: visitar um parente em um hospital (passagens, comida), comprar um presente para o aniversário da mãe ou do pai, lanches na rua (que poderiam ser feitos em casa, num momento de economia). Aí vem a parte divertida: os gastos "F", de fúteis e "L", de luxo. Fútil todo mundo sabe o que é, aquela coisa gostosa de comprar, tipo um vestido, um CD, uma caixa de chocolates, mas sem a qual você passaria facilmente. E "luxo" eu considero todas as futilidades que saem realmente caro. Por exemplo: uma viagem, uma bota cara, um Play Station, um vinho... ou mesmo coisas mais baratas mas que são mais fúteis que as coisas fúteis.

Por favor: tudo isso levando em conta, é claro, que a pessoa está com problemas financeiros. Numa conta saudável, um salário gordo, tudo isso é mais que bem-vindo. Ninguém aqui está falando que ser rico não é legal.

O que acontece é que quando se é obrigado a anotar todas as noites o que você gastou durante o dia, você passa a gastar durante o dia pensando que vai precisar anotar todos aqueles "efes" e "eles". E você começa a se policiar. Até que seus problemas sejam sanados, essa chatice é necessária, e pode ensinar muito a lidar com futuros perrengues, como perder o emprego, por exemplo, e precisar tocar a vida. Se pensarmos uma situação extrema dessa com filhos, por exemplo, o problema passa a ser um desastre. Daqueles que fazem qualquer um virar insone crônico.

Esses dias, o Jornal da Globo veiculou uma matéria sobre o tema e disponibilizou um modelo de planilha que ajuda a detectar, ainda, quanto do seu salário você realmente pode botar pra jogo. É um arquivo em Excel bem simples e prático de usar.


Dica: Precisando pegar um empréstimo de médio a grande porte, se puder recorrer a amigos bem próximos (o suficiente para ninguém ficar constrangido com o pedido) ou parentes como pais ou irmãos, prefira. Os juros do banco podem se transformar numa dor de cabeça à parte, e ainda maior.


Sua casa é um curso de gestão

Para concluir, como adoro um link, outro dia li um texto bem simpático sugerindo que, antes de abrir um negócio (o que se faz cada vez mais cedo), as pessoas saiam da asa dos pais e tenham sua própria casa para administrar (o que se faz cada vez mais tarde).

Não fecho questão em relação à idade de sair da casa dos pais, é questão de foro íntimo, mas confesso que acho um tanto quanto bizarro passar dos 30 vivendo a lógica e as regras de outros adultos. O post tem lá sua verdade.


5 comentários:

  1. chegando aos 30 bate mesmo uma neurose. e, ao contrário do que diz o post, prefiro investir em algo e sair depois. foro íntimo (rsrs) até pq tenho a filosofia de, antes de gastar em algo caro, o dinheiro tem q estar trabalhando pra mim. ps. vinho é necessário..

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  2. hehehe muito engraçado seu texto...
    fico feliz de ter sido a maior entusiasta da sua poupança de 1/3!!
    Como assim presente no aniversário das irmãs não é necessário? :O (brinks!)
    Amei a planilha com personalidade!... hihihihi

    Desde os 19 comecei a ganhar dinheiro quase suficiente pra me bancar (menos aluguel, vivia no apê dos meus pais - sem eles dentro. yeah!). Aos 24, saí de casa pra dividir o apê com meu namorado na época. Sempre fui muito organizada com $. E viajava, bebia, mas sempre ralei bastante.
    Agora é que tá f*d*. Ganho metade do que preciso. Do que acho que mereço a essa altura, depois de tudo.
    O que fazer?
    dar risada. fazer bico. é isso aí...
    já fiz planilha. hj em dia, faço piada. tá brabo.

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  3. Quanto mais a gente ganha, mais precisa ganhar. É a Igreja Bola de Neve.

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  4. Táia, fico imensamente feliz de ter sido citado no seu blog, que aliás, é uma gostosura de leitura!!
    Dei uma rápida lida nele, mas achei muito interessante quando você falou que adotou a planilha! Eu tenho uma planilha aqui que eu registro entradas e saídas desde 2008! É muito boa! Pode parecer maluquice, mas sempre que eu saio com minha namorada ou sozinho, eu dou uma olhadinha no "saldo disponível" e estipulo o quanto eu to pretendendo gastar. Pode parecer bobeira ou baixa funcionalidade, mas sinceramente, já me salvou muitas vezes. Quando você ver, no final do mês você fechou no zero a zero (ou até mesmo com um troquinho lá sobrando). Agora multiplique isso por 12 meses... Enfim, não perca nunca esse hábito!!

    Vou ler o seu blog e adicionar o link dele lá no meu!

    Grande BEIJO!

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    1. Valeu Leandro! Adotei a planilha, caminho sem volta hehehe Como disse, já senti mudança no meu comportamento. Organização é chato mas é fundamental!
      bjo

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